Aniversário
de criança. Um dia muito especial para os pequenos, entretidos pela
brincadeira, e, por mais estranho que soe, para os adultos também. Para os
adultos? Sim, a comida e bebida lhes interessa absurdamente. Entretanto, além
disso, como ser humano e escritora amadora, uma atitude básica e simples que efetuei
inconscientemente em determinada festa foi a arte da observação.
Era aniversário de meu primo de seus
poucos seis anos. A festa correu bem e nada de ruim aconteceu. Porém, um fato imperceptível aos olhos alheios incomodou-me
após o parabéns. Estourar o esperado “balão”. Aquela enorme bexiga colorida
pendurada no teto, densa, dotada de inúmeros doces para a alegria dos
pequeninos. Rapidamente, uma aglomeração surgiu ao entorno da atração. Todos
buscavam se posicionar em uma posição privilegiada, para que quando as balas e doces caíssem as
crianças pudessem agarrar desesperadamente ao máximo de alimentos que
conseguissem. Boom! Balas, chicletes, pirulitos e chocolates vieram abaixo. Inicialmente,
diversas mãos ergueram-se para cima,
umas por cima das outras — vantagem considerável para as crianças com alguns
centímetros maior que a altura da média. Em segundos, após o término da queda e
as embalagens coloridas ficarem esticadas e expostas ao chão, todos atacaram
buscando arrecadar sua parcela da recompensa.
Pronto! Aqui está exposto, em uma
simples atitude, o sistema vigente que nos comanda, o capitalismo, a sociedade
meritocrática. Cada criança receberia ali a quantidade adequada ao seu teórico
esforço para sair com as mãos unidas, preenchidas de balas e sorrisos nos
rostos. Contudo, muitos que se esforçaram igualmente, não conseguiram a mesma
recompensa, devido a inúmeros fatores, sejam eles a altura que permitiu
dificuldade perante aos outros, a idade e sua posição( mais próximo ou afastado
do balão). Naquele local, tais crianças, mesmo sem saberem a proporção de suas atitudes,
aparentemente singelas, estavam concretizando o conceito, encaminhando o
desenvolvimento do embrião da sociedade competitiva a que somos subjugados
culturalmente e socialmente.
Porém, nem tudo estava perdido
naquela cena, qual poderia ser considerada uma destruição a consciência de
união das crianças. Ao fim da disputa, algumas crianças, poucas, entregavam aos
pais as balas que nem cabiam mais na palma da mão, transbordavam. Em
contrapartida, outras viam-se amuadas em um canto, com no máximo três balas
entre os dedos. Meio a esse cenário, uma participação importante entrou em
ação. Um dos pais, vendo o filho com balas demais para serem consumidas somente
por ele, disse ao menino que doasse, compartilhasse um pouco de suas guloseimas
com uma menininha decepcionada por ter pego pouco daquela bexiga. E assim foi
feito.
Ao assistir a cena do repartir com o
outro, um alivio breve permeou minha consciência.
Não interprete, assim, caro leitor, de
maneira errônea esse pequeno texto, pois não há nenhum apoio a governos
socialistas ou comunistas em sua conclusão. Existe, com toda certeza, a vontade
de mostrar o quanto nossa forma de organização é injusta e como isso se insere
em pequenas ações cotidianas. Ademais, a atitude do pai, junto ao filho,
demonstra a resistência de minorias a favor de algo mais justo, igualitário, de
acesso a todos. Deve-se, portanto, notar aquilo que está implícito em cada ação
para transformá-la, impedindo a perpetuação de embriões como esse.
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