Não havia nada além de quatro paredes escuras a cercarem-me. Uma pequena janela localizava-se acima do beliche antigo ocupado por mim e meu companheiro de cela. Como não havia nada além de nossa imunda existência, também nada fazíamos. Ali, remoía meu íntimo preenchido de pensamentos que conduziam à minha solidão. "Eu não deveria estar naquele lugar", pensava frequentemente. O que havia feito de errado, afinal? Somente resgatava dos resquícios de minhas memórias vozes alheias, quais refletiram em meus olhos a acusação de um assassino. Entretanto, nem mesmo minha própria pessoa sabia da existência de uma vítima, pela qual meu nome fora difamado. Seria eu mesmo? Não... dos olhares chamuscados pela vingança não me restavam dúvidas. Eu era um assassino... Ou será que não? O que teria feito aquele monte de carne composta por células e um cérebro que me martirizava todos os dias?
Meu peito já contentava-se com uma esperança morta, sem possibilidade de recompô-la. Apenas o desejo de ter a certeza sobre meu passado revirava dentro de mim, como se fosse uma cascata de água a escorrer barulhenta e sem sentido.
Conquanto, a tranquilidade exterior se extinguiu antes do previsto. Em um dia teoricamente tedioso dentre muitos outros, antes que eu soubesse se dentro de mim haveria mesmo um homem ou um monstro, o cárcere me chamou. Fui conduzido através do corredor estreito e sujo pelo qual jamais gostaria de ver. Escutava, ,durante a breve caminhada, os murmúrios vindos dos bandidos presos em outras celas. E, conforme cada passo prosseguia, o ar parecia tornar-se rarefeito e as algemas em minhas mãos ficaram mais pesadas do que realmente eram.
Entrei em uma pequena sala. Rapidamente, meus olhos avistaram o brilho da luz do sol que adentrava pela porta do fundo daquele local. Senti, observando ao longe, por breves segundos, paz. Minha mente silenciou-se. Por conseguinte, uma moça, enfermeira, deitou-me na maca e uma injeção apagou o restante de minha vida vazia. Presenteando meu corpo e mente com a liberdade de um sono profundo.
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