Há alguns meses atrás li minha primeira obra do famoso autor japonês Haruki Murakami, "O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação". Como admiradora da cultura oriental, além de curiosa a respeito do estilo de sua escrita, que originou tanto sucesso, não só no Japão, mas internacionalmente, resolvi investir na leitura desse livro.
A linha geral da história é bem simples, o protagonista, Tsukuru Tazaki é um homem solitário que trabalha projetando as linhas de metrô de Tóquio. Apesar de sua condição econômica ser estável, ele ainda é perseguido por um trauma do passado: ser excluído, inexplicavelmente, de um grupo de amigos e nunca mais vê-los. Com o incentivo de sua namorada, Sara, ele resolve reencontrar seus amigos, a fim de compreender o porquê da súbita separação dos demais, construindo, ao longo da narrativa, sua própria identidade.
Para o leitor acostumado com explicações e finais concluídos, como eu estou acostumada a encontrar na maioria dos livros, existirá uma breve frustração ao terminar de ler as últimas palavras impressas. Muitos pontos são soltos na narrativa e não são conectados, ficando suspensos. Além desses pontos, os sonhos descritos do personagem principal chegam a misturar-se com a realidade, sendo possível elaborar suposições baseadas nas fantasias de Tsukuru, desvendadas durante suas noites de sono.
Por um lado, tais pontos em abertos impulsionaram minha leitura até o fim, por outro, foram motivo de irritação. Intrigada, comecei a refletir sobre o motivo do autor, tão famoso internacionalmente, ter deixado sua história com diversos pontos de interrogação. Pensei a respeito e não demorei para achar uma resposta. A história se tratava, praticamente, sobre a vida de Tazaki. Foi demonstrado, sutilmente, a maneira como ele superaria o passado, seguiria adiante e conquistaria maior segurança sobre si mesmo. Assim, levando em consideração esse aspecto, a interpretação adequada não seria simplesmente a falta de criatividade do autor em amarrar a narrativa, ou preguiça, mas sim, a mensagem sutil de que os seres humanos nunca terão respostas para todos os acontecimentos inseridos em suas vidas. Muitas ações de amigos no passado continuarão sem qualquer sentido, da mesma forma com as perdas de oportunidades e o afastamento de pessoas antes próximas. Aliás, o futuro também é motivo para interrogações. Afinal, ele nada mais é que a própria dúvida.
Por fim, conclui-se: durante o caminho, vários pontos ficarão em aberto. E, infelizmente, na maioria das vezes, não conseguiremos amarrá-los adequadamente. Basta apenas seguir em frente, sem querer compreender todos os detalhes e abraçar o planeta solitariamente. Pois, como disse Carlos Drummond de Andrade, em "Sentimentos do mundo", "(...) tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo", ou seja, somos incapazes de, sozinhos, entendermos tudo e salvarmos a todos. Será, invariavelmente, difícil a compreensão total da vida, como muitas religiões buscam, do destino, e dos sentimentos que cercam as pessoas ao nosso redor, sempre inconstantes.

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