sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O zafu



     O vazio é a forma, a forma é o vazio, relembrei ao mirar o objeto à minha frente. 
   Ontem, adquiri meu primeiro zafu (almofada para meditação). Recebi em mãos, logo após o pagamento, apenas um tecido costurado, sem preenchimento, todo vazio. Assim, veio a orientação: para que ele fosse usado eu deveria enchê-lo de estopa. Sem tardar, arrumei o material necessário e comecei a ajeitá-lo. Sentei na cama, concentrando-me na atividade do momento, única e importante naqueles minutos. 
   Foi algo simples, ao mesmo tempo, diferente. Com o advento da modernidade, surgimento de novas formas de tecnologia, as pessoas estão acostumadas a receberem tudo pronto, perfeito para o uso. Tudo tem de ser prático. Afinal, o ambiente urbano exige fluidez, agilidade, sem muitas vezes pararmos para respirar e observar nossa própria vida, como estamos agindo no presente. O ser humano esgota-se com a preocupação excessiva sobre o futuro, ainda mais em momento de crise econômica como o país começa a enfrentar agora, esquecendo-se das coisas mais belas que acontecem perante seus olhos, entretanto que são ignoradas. Compramos almofadas já enchidas, roupas costuradas, estojos, carteiras... absolutamente a maior parte daquilo que consumimos está feito, restando-nos apenas a capacidade de utilizar e, por conseguinte, descartar esses produtos,  quando esses não forem mais útil. 
   É passível, até mesmo, fazer-se uma analogia relacionada a esse tema. A sociedade atual anseia os relacionamentos, o emprego dos sonhos, a faculdade tão esperada, de forma simples, enquanto, na realidade, relacionamentos, estudos para passar na universidade e no trabalho ansiado, levam tempo e dedicação para serem construídos, exatamente da mesma maneira como enche-se o zafu.
   Portanto, utilizar parte de meu tempo, geralmente curto, dessa forma, foi no mínimo gratificante. Um período usado não para refletir sobre o passado, futuro, ou quaisquer outros assuntos naqueles instantes, mas sim, para concretizar um pequeno ato. Como ouvi dizer, fazia parte da prática. O fato de sentar-me, prestar atenção em uma atitude consistente e fazê-la corretamente, era também uma forma de dedicar aqueles minutos a mim mesma. Foi satisfatório ver ao término o zafu pronto para o uso, qual meus próprios dedos contribuíram para a construção de sua forma, apesar de pequena minha intervenção. Posteriormente, será ele, a parede e eu, nada além, nada menos, apenas a existência do momento.



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