Todos
os dias a mulher regava a última aquisição de seu jardim com um ar intimidador.
Durante o percurso de regar as demais plantas o sorriso estampava-se no rosto
de Ana, encantada com os coloridos cheiros que enfeitavam seu quintal. Contudo,
ao deparar-se com sua mais nova aquisição, uma pequena planta, de galhos finos
e aparentemente fracos, seu rosto fechava-se em terrível decepção. Afinal, mais
de um ano havia se passado e nenhuma flor desabrochara naqueles galhos verdes.
Apesar de todo o empenho em regá-la
diariamente, adubar, perseguir as formigas que vez ou outra costumavam querer
roubar as folhinhas da planta, ela continuava quase idêntica de quando a
comprara – apenas um pouco maior em tamanho – mas com as mesma folhas e galhos
esticados. Não que esses galhos fossem pouco majestosos, eram bem esverdeados e
lotados de pequenas folhinhas, porém, sem outra cor além do verde.
Após tanto tempo sem ver brotar nela
um único botão, a mulher passou a regar aquela planta com certo desprezo das
demais. “É melhor que eu veja florescer algumas pétalas de seus galhos, caso
contrário, já sabe! ”, dizia ela, todas as vezes que a regava, a fim de
intimidar a pequena planta.
E a planta, a partir dessas
afirmações, afundava em profunda tristeza. Ela torcia todos os dias para que
seu corpo florisse, mesmo sabendo que não era a hora adequada. Entretanto,
apesar de tamanho desejo, dias se passavam e nenhum botão dava sinal de vida.
Cansada de tanto ouvir as reclamações de sua dona, a pequena planta já se
considerava inútil, pois as flores lhe faltavam, e, portanto, sua beleza e
função naquele espaço estavam comprometidas.
Afinal, ninguém queria ver os belos
galhos verdes, por mais belos que pudessem parecer. Todos queriam magníficas
flores cheirosas e coloridas, para encantar os possíveis visitantes daquele
jardim. Porém, isso a planta não podia oferecer. Não naquele momento.
Ela precisava de mais tempo. Não
sabia de quanto mais, talvez uma semana, um mês, um ano.... Como saberia? Era
jovem e tinha dificuldade de compreender tudo que acontecia com seu corpo.
Cansada de ouvir a mesma ameaça de
sua dona, e rodeada dos próprios pensamentos negativos que reformulava sobre
si, a flor foi ficando cada vez menos verde. Ela parou de crescer, seus galhos
começavam a ficar secos e caídos, e suas folhas verdes desprendiam-se sozinhas
e caíam no chão.
Diante disso, a mulher percebeu que
a planta estava ficando diferente e pensou ser falta de água. Assim, passou a
regá-la mais vezes ao dia, porém, de nada adiantou.
Ao fim de um mês desde que suas
folhas passaram a cair, os pensamentos continuavam. “Cresçam botões...”, e
perante a frustração, “Ah, eu sou inútil, não consigo dar a ela nem mesmo
pequenas flores. ”.
Nesse ínterim, não existiam mais os
belos galhos verdes, de folhinhas saudáveis. Agora, galhos secos, sem folhas,
quase ausentes de vida era o cenário que prevalecia. Apenas um dos galhos, esse
bem escondido e esquecido, continuava verde.
Nesse ponto, a dona do jardim,
acreditando que a planta já havia morrido, preparou-se para dar fim aquela
paisagem horrível qual atrapalhava sua decoração. Colocou duas luvas de
plástico em suas mãos e sem nenhuma dificuldade arrancou a raiz da planta do
vaso. Levou-a até o latão de lixo do quintal e a despejou ali. “Desperdicei
dinheiro com essa planta. ”, pensou, após dar as costas para admirar as outras
plantas de seu jardim, essas todas floridas.
Enquanto isso, dentro da escuridão
do latão de lixo, naquele último galho verde, o menor e mais frágil, havia um
botão, e dele a flor morreria, antes mesmo de nascer.
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