Pensando hoje na aquisição de meu novo piano, esse digital, (infelizmente não é igual ao da fotografia acima, mesmo assim de importante valor para mim) relembrei a conversa inusitada que tive com um professor de física do plantão, proximamente às datas da segunda fase do vestibular. Em meio a conversa, e a minha insistência para que ele resolvesse as questões da matéria, descobri, para grande surpresa, estar conversando com outro pianista. Não sei se profissional, com faculdade, mas mesmo assim músico também. Ele ficou entusiasmado com a conversa qual se estendia e resolveu mostrar-me um antigo aluno dele que é musicista. Assisti ao vídeo no qual seu ex-aluno tocava. Enquanto o professor observava a gravação, disse: " Olhe, é possível perceber que ele toca bem." Até o momento posterior a essa fala estava observando as técnicas de dedilhado, a leveza dos dedos atingindo as teclas e a sutileza do som. Contudo, a continuidade de sua fala intrigou-me. Ele afirmou: "Repara como os dedos são somente um instrumento? Não se toca piano apenas com as mãos." Estranhei de imediato. Qual era o sentido dessa afirmação? Afinal, as mãos, cada um dos dedos, são essenciais para tocar-se tais teclas. Até mesmo as partituras indicam quais dedos devem ser utilizados preferencialmente para cada nota.
Utilizando de uma visão técnica demais, devido muito a ter estado focada durante alguns meses em ter execuções mais perfeitas possíveis durante provas práticas de piano, não pude ver além do concreto. Eu havia me esquecido de uma das partes indispensáveis, a interpretação. O sentimento colocado em cada detalhe. A técnica pura não passa de um processo de aprendizado mecânico e automático. Tem de existir a emoção. Como escutei do monge uma vez, utilizando-me de outras palavras: "Quando for tocar não pense que se trata apenas de uma caixa de madeira com os martelos batendo nas cordas e produzindo som, pois a música não está na separação entre aquele que a toca e o piano, mas sim na união entre o instrumento e o instrumentista, ou seja, a totalidade dos elementos."
Com a agitação, a pressão do cotidiano, muitas vezes nos esquecemos dos detalhes mais singelos, todavia os mais relevantes. A música demonstra um sentimento, vem do íntimo, extravasa pelos dedos, escorre em movimentos precisos pelas teclas a fim de produzir e exteriorizar algo de dentro.

Nenhum comentário:
Postar um comentário