segunda-feira, 4 de abril de 2016

O delírio da mente

   Desistir de algo ou alguém é mais difícil do que conquistar. 


     Muitas vezes em nossas vidas temos que abdicar de um emprego, lazer ou até mesmo de um relacionamento decadente. Entretanto, a renúncia é, certamente, uma das maiores dificuldades do ser humano. Considero-a mais complexa quando comparada com a realização de um objetivo. É preciso coragem para assumir os riscos de simplesmente deixar-se ser livre, de abandonar. Não se limitar a alcançar determinado destino, existindo a possibilidade de ter-se tantas outras experiências diferentes. 
       O agarrar-se. O apego a alguma ideia. Isso é paradoxal com a nossa própria natureza, nós somos mutáveis a cada segundo. Nossos pensamentos nunca serão os mesmos, cada dia nunca será igual ao outro, por mais idênticas que sejam nossas atitudes. Nota-se isso, bem claramente para mim, na prática de meditação zazen. O modo de praticar sempre será igual, porém, ao mesmo tempo, diferente. A percepção muda, pois a visão sobre a realidade está modificada, assim como os valores interiores de cada um. 
      Mesmo sabendo de todos esses fatos, a abdicação talvez seja um dos maiores desafios humanos, compreender a instabilidade de todos os seres, inclusive da própria mente e aceitá-la. Entender que o passado não retorna a nós, ele torna-se apenas uma projeção mental, entender que diversas vezes erramos, pensamos estar no caminho certo, mas, de repente, você percebe estar fazendo algo incoerente com a sua própria personalidade e habilidade, apesar de amar aquilo. A incoerência também se faz presente aos indivíduos quais amam alguém responsável por suas lágrimas e tendem a manter o relacionamento. Insistem, apesar de serem conscientes que aquilo os machuca.  
     Todavia, na maior parte da vida é mais cômodo ficar, em vez de ir. Seguindo, assim, um caminho interminável de apego... de insistência inútil. 
   Insistimos em rancor, mágoas, memórias, tempos de outrora, quais, de fato, não irão retornar. Apenas fazem mal, removem os pensamentos, as emoções e o corpo. E nos lembram, constantemente: o rio tem somente um único curso contínuo. É impossível lutarmos contra a correnteza...
     Mesmo assim, somos humanos, continuamos a bater os braços e as pernas incessavelmente, engolimos água, entregamos-nos àquilo, esquecendo-se dos malefícios futuros. Contudo, sem muita demora, a fadiga nos atinge. 
   Os braços e as penas diminuem o ritmo. O indivíduo lentamente se entrega e retoma o fluxo da vida.
     O cansaço do corpo, por fim, venceu o delírio da mente.

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