Era
uma singela casa de esquina com o símbolo do OHM grifado na parede exterior.
Entramos eu, minha mãe e minha avó . Havia uma pequena escada e todos os sapatos
eram deixados ali na entrada. Após subir os pequenos degraus, avistamos uma
sala em que a superfície do chão era feita de um piso marrom bem encerado. Ao
fundo, no centro do lugar, via-se o instrumento indiano harmônio. Do seu lado
direito, estava posicionado outro instrumento, este de percussão. Logo, nos
sentamos em sequência, eu, mais próxima ao instrumento, minha mãe e minha avó.
A celebração iniciou com muita música. Um dos devotos sentou-se próximo ao instrumento e fez os acordes, cantando junto com todos os outros ali presentes, ora sozinho, ora em grupo. Para uma musicista, logicamente aquele momento não teria como ser ruim. Sentar em roda, cantar mantras e tocar direcionado a Deus de bondade e amor. Por aqueles momentos, pude sentir-me integrada com aquelas pessoas, quais estavam sentadas em círculo. Acreditei haver ainda esperança para todo o caos de nosso país e de valores humanos transmitidos hoje. O mais importante, senti-me em plenitude com algo superior. Imaginava o quanto Krishna estaria satisfeito em nos ouvir ali fazendo música em seu nome.
Entretanto, tempo indeterminado depois, todos aqueles sentimentos de integridade com os outros seres foram interrompidos bruscamente. Observei a formação de um possível teste para minha própria consciência. Uma aranha, parecida com aquelas brancas, mas com centro do corpo preto, vinha em minha direção. O que poderia fazer? Estava sentada no chão, sem nenhum utensílio em mãos para afastá-la. Minha atenção voltou-se de forma íntegra ao inseto, vindo initerruptamente para o simples local onde permanecia quieta. Imediatamente, pensei, tentando encontrar uma forma de reverter a situação o mais rápido possível: “Não tenho nenhum chinelo em mãos para matar essa aranha, e agora? ”.
Meu primeiro pensamento, entretanto, já denegria todos os princípios ali estipulados. Estava eu, no meio dos seguidores de Hare Krishna, que não promovem violência a nenhum ser vivo, planejando justamente em como praticar uma violência, por mais inconsciente e intrínseca intenção. Antes de relembrar esse fato importantíssimo peguei a espécie de “tapete” em que estava sentada e pressionei contra a aranha, estando ela já bem próxima de meu corpo. Segundos após esse ato, vi o rapaz qual tocava os mantras observar-me fixamente e relembrei, sentindo-me inteiramente envergonhada e culpada: eu estava no meio dos Hare Krishna!Contudo, ao voltar a visão para minha calça vi a aranha pendurada no tecido de minhas vestes. Balancei-o rapidamente e vi o aracnídeo andar para o lado de minha mãe. Ela afastou as pernas e permitiu que a aranha passasse, alertando minha avó do obstáculo qual enfrentávamos. Porém, ela deixou de ressaltar muito a situação incômoda e deu um empurrão com a mão no aracnídeo para o lado e essa seguiu seu rumo.
Aquela pequena aranha conseguiu tirar-me do conforto momentâneo, fazendo com que me sentisse realmente cruel. Qual a linha tênue da bondade e compaixão? Naquele ambiente, apesar de já vegetariana, tal instante parecia ter revelado a natureza ruim e instintiva do ser humano, estando ela presente em meu íntimo, moldada pelos valores da atualidade, na qual o respeito, sobretudo pelo próprio planeta, por outros seres e pela natureza é suprimido constantemente.
Quando vemos algo que nos incomoda, a reação direta a essa causa é afastar, esquecer ou destruir esse algo, julgando a não avaliação prévia de nossas atitudes. Isso não nos torna mais humanos... são apenas instintos. Os animais são assim, movidos pelas sensações e puramente pelo instinto. Porém, sendo ressaltado por muitas religiões, nós somos os mais propícios a encontrarem o caminho a ser seguido para despertar a pureza de nossos corações, todavia, é necessário o controle de nossos pensamentos, da nossa mente, demasiada inquieta e impenetrável quando alguém se recusa a fazê-la ser controlável. Muitas de nossas ações ficam sob a obscuridade do instinto, do cômodo.
Possivelmente, eu precisava daquela quebra de harmonia ao ver a aranha naquele momento. Um dos motivos poderia ser para prestar atenção em minhas atitudes, muitas vezes tomadas de forma automática, devido a correria do cotidiano, e, assim, tentar buscar uma nova visão sobre o mundo e seus habitantes, por mais estranhos e incompreensíveis que alguns possam parecer a mim.
Nesse caso, matar uma aranha talvez não prejudicial, sem motivos aparentes, por medo e nojo é muito comum e praticado entre as pessoas fora daquele meio. Todavia, quando estive inserida naquele contexto e me deparei com aquele ser vivo, foi como se tivesse sido a primeira vez, mostrando-me, por fim, a abusiva ofensa que quase executei. Felizmente, a aranha saiu viva! Felizmente...
A celebração iniciou com muita música. Um dos devotos sentou-se próximo ao instrumento e fez os acordes, cantando junto com todos os outros ali presentes, ora sozinho, ora em grupo. Para uma musicista, logicamente aquele momento não teria como ser ruim. Sentar em roda, cantar mantras e tocar direcionado a Deus de bondade e amor. Por aqueles momentos, pude sentir-me integrada com aquelas pessoas, quais estavam sentadas em círculo. Acreditei haver ainda esperança para todo o caos de nosso país e de valores humanos transmitidos hoje. O mais importante, senti-me em plenitude com algo superior. Imaginava o quanto Krishna estaria satisfeito em nos ouvir ali fazendo música em seu nome.
Entretanto, tempo indeterminado depois, todos aqueles sentimentos de integridade com os outros seres foram interrompidos bruscamente. Observei a formação de um possível teste para minha própria consciência. Uma aranha, parecida com aquelas brancas, mas com centro do corpo preto, vinha em minha direção. O que poderia fazer? Estava sentada no chão, sem nenhum utensílio em mãos para afastá-la. Minha atenção voltou-se de forma íntegra ao inseto, vindo initerruptamente para o simples local onde permanecia quieta. Imediatamente, pensei, tentando encontrar uma forma de reverter a situação o mais rápido possível: “Não tenho nenhum chinelo em mãos para matar essa aranha, e agora? ”.
Meu primeiro pensamento, entretanto, já denegria todos os princípios ali estipulados. Estava eu, no meio dos seguidores de Hare Krishna, que não promovem violência a nenhum ser vivo, planejando justamente em como praticar uma violência, por mais inconsciente e intrínseca intenção. Antes de relembrar esse fato importantíssimo peguei a espécie de “tapete” em que estava sentada e pressionei contra a aranha, estando ela já bem próxima de meu corpo. Segundos após esse ato, vi o rapaz qual tocava os mantras observar-me fixamente e relembrei, sentindo-me inteiramente envergonhada e culpada: eu estava no meio dos Hare Krishna!Contudo, ao voltar a visão para minha calça vi a aranha pendurada no tecido de minhas vestes. Balancei-o rapidamente e vi o aracnídeo andar para o lado de minha mãe. Ela afastou as pernas e permitiu que a aranha passasse, alertando minha avó do obstáculo qual enfrentávamos. Porém, ela deixou de ressaltar muito a situação incômoda e deu um empurrão com a mão no aracnídeo para o lado e essa seguiu seu rumo.
Aquela pequena aranha conseguiu tirar-me do conforto momentâneo, fazendo com que me sentisse realmente cruel. Qual a linha tênue da bondade e compaixão? Naquele ambiente, apesar de já vegetariana, tal instante parecia ter revelado a natureza ruim e instintiva do ser humano, estando ela presente em meu íntimo, moldada pelos valores da atualidade, na qual o respeito, sobretudo pelo próprio planeta, por outros seres e pela natureza é suprimido constantemente.
Quando vemos algo que nos incomoda, a reação direta a essa causa é afastar, esquecer ou destruir esse algo, julgando a não avaliação prévia de nossas atitudes. Isso não nos torna mais humanos... são apenas instintos. Os animais são assim, movidos pelas sensações e puramente pelo instinto. Porém, sendo ressaltado por muitas religiões, nós somos os mais propícios a encontrarem o caminho a ser seguido para despertar a pureza de nossos corações, todavia, é necessário o controle de nossos pensamentos, da nossa mente, demasiada inquieta e impenetrável quando alguém se recusa a fazê-la ser controlável. Muitas de nossas ações ficam sob a obscuridade do instinto, do cômodo.
Possivelmente, eu precisava daquela quebra de harmonia ao ver a aranha naquele momento. Um dos motivos poderia ser para prestar atenção em minhas atitudes, muitas vezes tomadas de forma automática, devido a correria do cotidiano, e, assim, tentar buscar uma nova visão sobre o mundo e seus habitantes, por mais estranhos e incompreensíveis que alguns possam parecer a mim.
Nesse caso, matar uma aranha talvez não prejudicial, sem motivos aparentes, por medo e nojo é muito comum e praticado entre as pessoas fora daquele meio. Todavia, quando estive inserida naquele contexto e me deparei com aquele ser vivo, foi como se tivesse sido a primeira vez, mostrando-me, por fim, a abusiva ofensa que quase executei. Felizmente, a aranha saiu viva! Felizmente...

