segunda-feira, 14 de março de 2016

The price of art

  Assisti ao documentário Artifact da banda Thirty Seconds to Mars. Tal filme informa sobre a indústria musical e a relação conflituosa entre o artista e as gravadoras. No caso em específico, a complicação encarada pelos músicos era relacionada a grande gravadora EMI. Entretanto, um problema não exclusivo nesse cenário. 
  As gravadoras em geral sentem-se no direito de ter a posse da arte de alguém. Contratos são firmados para a exclusividade e o artista não pode fazer nada com sua própria produção fora daquela empresa. Ademais, demasiadas são as taxas a serem pagas relacionadas com gravação e produção dos discos, tornando o pagamento que o músico deveria receber muito abaixo do valor desejado, tendo em vista o tempo, criatividade e esforço gasto para  compor, ensaiar e participar de eventos. No caso de Thrity Seconds to Mars eles ainda ficaram com dívida após fazer algumas reivindicações.
  Infelizmente, esse tipo de postura não é exclusiva do mercado musical. No âmbito literário, o cenário é bem semelhante.As editoras, sentindo a necessidade dos autores assumirem contrato com elas, a fim de ampliarem o público e publicarem seus livros, expressam uma postura de empoderamento. A arte, antes pertencente ao autor, terá de se submeter a uma empresa, como se não fosse mais sua. Afinal, tudo que for feito com sua própria produção deverá ser comunicado, além disso, você não receberá muito por cada exemplar, já que, a impressão e divulgação foram de responsabilidade da corporação. Grande trabalho! O escritor passa horas para criar um novo mundo, mais horas para reproduzir as ideias em sua mente, outras infinitas para revisar, reler e identificar possíveis erros. Ah, caso ele não seja muito bom em gramática e coesão ainda pagará para um revisor. Se quiser um livro ilustrado pagará pelo trabalho de outrem. E, no fim, ou terá que comprar uma tiragem grande de seu próprio livro para financiar o primeiro lançamento na editora, ou receberá meros 5% pela venda de um exemplar... Esqueci-me! Não ache ruim, porque a editora ainda pode fazer um favor a você e lhe presentear como cortesia com um livro de graça (mas nem tanto, porque o autor também deve pagar pelo frete até sua casa). Olha só! 
  Em suma, a arte não é mais sua. É deles. Você torna-se apenas um instrumento responsável por ter participado do processo de criação e que simplesmente optou por entregar todo seu esforço nas mãos de estranhos, visando obter algum espaço no mercado editorial. Isso porque ainda há a dedução dos compradores de que os independentes não possuem qualidade suficiente. Mas de que adiantaria a qualidade, se, na verdade, o lucro ficará para aquele que teve somente o trabalho de impressão e divulgação?Todos devemos refletir até que ponto vale a pena esse sacrifício.
  Então, retorno a frase que ouvi em minha primeira aula de estudos literários: "Qual o valor da arte no mundo capitalista?". Esse mundo está sendo movido pelo dinheiro. A arte tem de ser vendida, comercializada, tornando-se, não somente uma expressão, mas um produto. Entretanto, pobre autor, músico, ou qualquer outro artista dependente de empresas, o lucro, o dinheiro não chegará às suas mãos. Ficará com os Grandes. Esses que nada fizeram para merecer tal quantia. E, além disso, deve agradecê-los! Sua história foi publicada? Comemore, mas não esqueça de torcer para que as vendas excedam 200 livros, com objetivo de você ganhar 10% por exemplar. Acha o acordo ruim? É pegar ou largar. Você irá fechar conosco ou não? 
  É dessa forma que o capitalismo funciona. As editoras, as gravadoras, todas sugam a criação dos artistas, principalmente dos iniciantes, comercializam-a, ganham com isso e repassam muito pouco. Até quando isso vingará? Até quando seremos reféns disso? Pensem...

 Indicação documentário: ARTIFAC- Thirty Seconds to Mars.